segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dakar e Gorée

O plano para o primeiro dia era sair do aeroporto e ir directamente para a casa do primeiro couchsurfer que me ia receber (até porque a chegar já depois da meia noite).
Escolhi um couchsurfer estrangeiro (americano) para os primeiros dias no país porque achei que isso me iria facilitar a adaptação ao Senegal, no entanto não consegui telefonar-lhe nem antes de partir no avião, nem quando fiz escala em Casablanca.
Ainda no avião já antecipava que a recepção em Dakar não ia ser fácil. Nos primeiros dias em países africanos, é normal pagar demasiado caro por tudo aquilo que se compra. Ou os preços não são fixos e têm que ser negociados exaustivamente, ou têm um valor (mais barato) para os locais e outro (mais caro) para os estrangeiros, principalmente para os estrangeiros acabadinhos de chegar. Depois um ou dois dias quando começo a conhecer os preços locais tudo se torna mais fácil ganho muito mais "lata" e desenvolvo a minha capacidade de negociar.
Mas os primeiros instantes são sempre um pouco confusos e lugares como aeroportos, portos, praças em zonas turísticas e estações são sempre os sitios em que sei que vou ser enganado nos preços. Rua de Dakar
O avião atrasou-se um pouco mas a chegada ao aeroporto decorreu com normalidade e nas filas para mostrar o passaporte conheci um casal curioso um belga e uma italiana que vivem juntos em Espanha.
Tentei contactar o Natham (o cs americano) mais uma vez sem sucesso e percebi que não ia conseguir contactá-lo e que tinha que descobrir um lugar para dormir.
O casal italo-belga também estava à procura de um hostel e pareceu-nos boa ideia procurarmos juntos.
Á saida do terminal, dezenas de motoristas e vigaristas esperavam por nós chamando-nos e tentando atrair a nossa atenção oferecendo táxi, câmbio de moeda, alojamento e outros serviços. Ignorámos o maior monte deles e seguimos para fora do terminal para apanhar um táxi. Pediram-nos 10000 CFA depois 7000 (10 euros) e depois de insistir 5000, ainda era muito para um táxi em África e sabiamos que não era o preço mas eram quase duas da manhã estavamos muito cansados por isso acabámos por aceitar.
Demos a morada de um hostel que alguém no avião tinha sugerido ao casal que vinha comigo. O hostel era em Yoff ou seja muito perto aeroporto, mas ou o motorista não conseguiu encontrar a morada certa ou o sitio não existia mas meia hora e muitas voltas depois ainda nada de hostel, foi então que o motorista sugeriu levar-nos a outro hostel que ele conhecia e que era bom, nós aceitámos com a condição que não fosse caro, e reforçamos bem essa ideia, dissemos que se fosse caro não ficavamos nesse hostel e ele disse que não havia problema. A minha cama e rede mosquiteira no auberge
Pouco depois chegamos ao hostel noutra parte da cidade, realmente tinha bom aspecto, mas o preço era de uns singelos 40 euros a noite. Obviamente não quisemos ficar, mas quando nos preparavamos para ir para outro hostel (este sugerido no "lonelly planet" e por isso com um preço que já conheciamos) o taxista disse que não ia a mais lado nenhum a não ser que lhe dessemos mais 10000CFA. Os 5000 que tinhamos pago já eram demasiado e se não tinhamos encontrado ainda um hostel que nos agradasse a culpa era dele porque não encontrou o primeiro hostel apesar de lhe termos dado a morada (existe alguma dificuldade porque a maior parte das ruas não tem nome, só as principais) e o segundo porque nos disse que era barato e era extremamente caro. Eu não estava minimamente disposto a dar-lhe mais dinheiro e até disse que se ele não ia a lado nenhum, eu também não, que dormia no carro dele se fosse preciso.
Infelizmente por esta altura (talvez por terem mais dinheiro que eu)o casal que vinha comigo já estava a vacilar e disposto a ficar no hotel. "...Este taxista é maluco ainda nos deixa num beco qualquer..." dizia ela assustada "... é mais seguro ficarmos aqui...", para mim ficar ali simplesmente não era uma opção, por isso depois de discutir com o motorista mais um bocado acordei em pagarmos mais 5000 CFA para ele nos levar ao "Auberge Via Via" onde acabamos por ficar os três no mesmo quarto (com 3 camas) porque era o único disponivel.
E assim foi a primeira noite no Senegal, a forma como o país me deu as boas vindas!
Quem ler esta pequena crónica pode julgar que a experiência foi desagradavel e/ou que penso demasiado em dinheiro. De facto, apesar de ter chegado a dizer ao motorista que chamasse a policia porque eu me recusava a sair do taxi antes que este me levasse ao "auberge" pretendido,e de insinuar que ia ficar a dormir no táxi aquela noite a verdade é que a discussão nunca azedou demasiado e continuamos sempre a tratar-nos uns aos outros como "mom ami". E quanto ao dinheiro a verdade é que o meu orçamento realmente era bastante baixo e portanto tinha mesmo que negociar e o preço pedido pelo motorista era ultrajante, o que ele lucrou com a nossa viagem corresponde ao dinheiro que um taxista "normal" (que apanha as pessoas na rua e não no aeroporto) ganha em 2 dias inteiros de trabalho e cerca de 10-15 vezes o preço normal da viagem.
Palácio do governador

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