quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Dakar 3
O Natham era simpático mas andava cheio de trabalho e estava sem tempo para me mostrar a cidade por isso parti sozinho outra vez.
Perdi grande parte da manhã na embaixada da Mauritânia. Afinal ia precisar de fotocópias, tal como o meu "guia" do dia anterior me tinha dito, mas só na altura de passar a fronteira e não precisavam de ser autenticadas, tinha sido enganado pelo "mon ami" e o policia que tive que subornar pela autenticação das fotocópias devia estar feito com ele, mas felizmente aprendi a não dar importância a pequenas coisas como essa, afinal perdi apenas dois euros com o golpe e o tipo devia precisar mais deles que eu.
Para ir da casa do Natham até ao centro da cidade tinha apanhado um taxi, mas agora para voltar tinha muito tempo (e não queria gastar muito)por isso tentei apanhar um autocarro. Não consegui encontrar um que fosse directo, mas apanhei um que fez uma parte do caminho. Lembrei-me de ir a pé o que faltava até Ouakam, mas afinal era mais longe do que aquilo que estava à espera.
Gostei de Ouakam, é um bairro bem mais relaxado que as ruas do centro da cidade, a zona residencial do bairro recebe poucos turistas por isso os preços são mais baratos e fáceis de negociar, as pessoas mais afáveis e não existem aqueles tipos chatos que nos seguem para todo o lado tentando vender-nos bens ou serviços que não queremos. Em Ouakam respira-se calma as pessoas cumprimentam-se (e cumprimentam-nos) na rua e o vendedor de fruta mostra-se contente em conversar enquanto vende as suas mangas. Existem alguns campos de futebol sempre cheios com grupos de miudos a jogar, e a certas horas do dia vêem-se algumas pessoas (brancos e negros) a fazer jogging pelas ruas.
De praticamente qualquer espaço aberto em Ouakam é possível ver dois montes perto do mar "les mamelles" chamados assim porque com a sua forma cónica se assemelham a dois mamilos. Um deles é encimado por um farol, o outro por uma estátua gigantesca.
Ao fim da tarde o calor era menos intenso por isso decidi passar por casa vestir uns calções e ir dar uma corrida até aos dois mamelles.
Do farol a vista impressiona, o mar está muito perto e consegue ver-se quase toda a cidade; as Almadies e Ngor com as suas praias e vivendas ajardinadas, o aeroporto, Ouakam, Yoff, Mermoz até aos edifícios de escritórios da Medina e do Plateau no centro da cidade.
No outro mamelle o que impressiona são os 52 metros da estátua de bronze construída no seu topo (a estátua da liberdade em NY tem 46 metros).
A estátua representa um casal com um bébé nos braços apontando o céu e simboliza o renascimento do povo e do continente africano (Monument de la Renaissance Africaine), admirado por alguns e odiado por muitos este monumento é altamente controverso na sociedade sengalesa. A critica mais comum é o custo elevadissimo da obra (23 milhoes de euros) num país em que faltam estruturas básicas como escolas ou hospitais. Mas muitas pessoas apontam também o dedo ao financiamento pouco transparente das obras, ao anúncio publico do Presidente Abdoulaye Wade reclamando para si 35% das receitas geradas por visitas ao monumento e estruturas adjacentes alegando direitos de propriedade intelectual sobre este e indicando o seu filho como presidente do conselho de administração da fundação que vai gerir o monumento.
Muitas pessoas criticam igualmente o estilo "Estalinista" do monumento e o facto da sua construção ter sido entregue a uma empresa estatal Norte Coreana. Diversos imans locais consideraram o monumento anti-islâmico por ser idólatra (uma vez que representa uma figura humana) e/ou pela semi-nudez (considerada ofensiva) do homem e mulher representados. O criticismo ao monumento foi tão generalizado que levou mesmo a manifestações populares exigindo a demissão do presidente Wade.
No entanto muitas pessoas admiram a grandeza da obra e esperam que esta constitua um simbolo importante para estimular o povo senegalês, melhorar a imagem do país e atrair turistas.
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