quarta-feira, 23 de março de 2011

Paraty Sitio Teva

De manhã acordei cedo e aproveitei para ver à luz do dia a paisagem do Sítio Teva, o local em que me encontrava.
Este foi o panorama que encontrei:



Rodeado de floresta por todos os lados apenas se viam algumas clareiras na direcção de Paraty, já na direcção oposta a mata era ininterrupta e estendia-se até aos cumes da serra da Bocaina.


Sabia que neste local ia passar a maioria do tempo ao ar livre, no entanto mesmo que não saísse do quarto não me iria sentir entre quatro paredes uma vez que que faltava uma, esta era a vista a partir da minha cama.

Esta era a casa onde fiquei, construída em grande parte com materiais (madeira, cipós, folhas de palmeira, pedras, areia, barro) da floresta à nossa volta.

Este era o chuveiro da nossa casa de banho, com água captada do ribeiro. Não é propriamente cinco estrelas mas servia muito bem. A casa de banho não tinha teto mas a água do chuveiro era fresca por isso se estivesse a chover nem notávamos a diferença entre água da chuva e do duche.

A nossa alimentação era variada, não incluía carne mas incluía ovos, leite, massa, arroz, feijão e muita fruta e vegetais.
Assadas ou fritas ás refeições, ou cruas para petiscar a qualquer hora do dia ou da noite as bananas eram uma parte fundamental da nossa dieta e um alimento que nunca faltava dada a abundância de bananeiras no sítio.
Além de bananas haviam no sítio alguns abacaxis, no futuro pretende-se desenvolver aqui uma pequena produção agro florestal mais diversificada que possa fornecer vegetais e frutas para as pessoas que habitem ou trabalhem neste lugar.

A principal parte do nosso trabalho no sítio consistia em cuidar dos viveiros de mudas. Em cada pequeno saco preto estava a muda de uma árvore nativa da mata atlântica. O destino destas mudas é serem utilizadas em projectos de reflorestação ou em jardins como plantas ornamentais. Todas as plantas eram criadas a partir de sementes colhidas nas redondezas e os viveiros contavam com cerca de cinquenta espécies diferentes de árvores nativas. As plantas eram cuidadas usando solo da floresta como substrato e sem qualquer recurso a nenhum tipo de fertilizante ou pesticida.


Além de cuidar das mudas tive a oportunidade de aprender e trabalhar em bioconstruções. Por exemplo no local aqui mostrado estávamos a limpar o terreno para construir mais uma cabana com tijolos feitos de barro extraído do próprio local em que íamos construir. A areia vinha do ribeiro que passava ao lado, e também planeávamos usar folhas de um tipo de palmeira para fazer o telhado.
Durante o tempo que eu passei no sítio elaborámos também um sistema de tratamento para as águas provenientes dos chuveiros e da cozinha.

Trabalhando ao ar livre numa área de mata era possível termos alguns "encontros imediatos" com alguns animais potencialmente perigosos. Desde que cheguei avisaram-me para estar atento a possíveis serpentes e aranhas venenosas, principalmente em áreas com vegetação rasteira, junto a bananeiras e debaixo da lenha.
Não vi uma única serpente durante todo o tempo que aqui estive mas não posso dizer o mesmo em relação ás aranhas.
Essas tive a oportunidade de observar frequentemente e de várias espécies diferentes.
A que se encontra na fotografia acima, cujo nome eu desconheço era das mais frequentes, esta estava escondida entre os sacos das mudas que estávamos a transportar.


Um pouco menos frequente era esta aranha, uma tarântula ou como os brasileiros lhe chamam uma caranguejeira. Apesar do seu aspecto ameaçador na verdade não é muito venenosa e a sua mordedura não é capaz de provocar a morte em humanos, no entanto possuí pelos urticantes que podem irritar seriamente a pele de qualquer incauto que se aproximar demasiado.

Aranha Armadeira. Encontrei uma destas (a da fotografia) quando depois de ter estado a ler um pouco na cama me levantei e senti algo a mover-se junto à minha cabeça. Era uma aranha armadeira que estava a passear na minha rede mosquiteira (do lado de fora). As aranhas armadeiras são grandes (até 17 cm) extremamente venenosas e bastante agressivas, são responsáveis por mais mortes que qualquer outro tipo de aranha. Não conseguia dormir com aquela aranha enorme no meu quarto. Usei um batuque virado ao contrário para apanhá-la, tapei com o livro e fui libertá-la bem longe do outro lado do ribeiro para evitar que voltasse.
Como as aranhas gostam de se esconder dentro do calçado convém sempre verificar antes de nos calçarmos. Não encontrei nenhuma aranha, mas uma das vezes que sacudi as sapatilhas encontrei lá dentro uma grande escolopendra (lacraia) que também tem uma picada bastante dolorosa e que causa febre durante alguns dias.

Para encerrar o capítulo dos animais que picam vou só referir alguns que tive o infortúnio de encontrar e que de facto me picaram.
Um deles foi uma lagarta fogo similar a esta que provoca uma sensação de queimadura (daí o nome). Na verdade fui picado mas não foi no sítio Teva, foi mais tarde na minha viagem (perto de Teresópolis.
Também fui picado por um marimbondo(parecido com uma vespa) e por diferentes tipos de formigas, mas nenhum deles era particularmente doloroso.


Uma mutuca (semelhante a um moscardo) pousada sobre o meu pé. Reparem no tamanho daquele espeto (o nome correto é probóscide) com que o inseto nos suga o sangue!!!
P.s. já sei que o pé está sujo, estava a trabalhar na terra.

Mas a maior parte dos animais que encontrávamos no dia a dia não representavam qualquer tipo de perigo ou incómodo e eu ficava contente por encontrá-los.

Era comum encontrar lagartos, diversos tipos de aves como este beija-flor e enormes borboletas de asas azuis.
Na floresta também são comuns animais como a preguiça e o quati mas infelizmente não consegui vislumbrar nenhum.
Muito mais raros mas ainda existentes na serra da bocaina são espécies como a onça ou o tamanduá-bandeira.




Quando estávamos no sítio e não estávamos a trabalhar íamos tomar um banho de cachoeira no rio que corria perto. Era ótimo para refrescar e a paisagem era fantástica.





Partilhei o meu tempo no sítio com Tamer, o dono do sítio (na foto de cima) com o jovem na segunda foto que era um rapaz espectacular (não acredito que não consigo lembrar-me do nome), com o Marcelo que não dormia no sítio mas que chegava todos os dias cedo pela manhã e saía á tardinha e com dois voluntários como eu; o Danny da Argentina e a namorada ... (mais um nome que não consigo lembrar) de Israel. E também com os dois cães do Tamer, um deles aqui na fotografia acima.

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