terça-feira, 22 de março de 2011

Chegada ao sítio em Paraty






Toda a minha viagem pela América do Sul foi feita com recursos financeiros bastante limitados, simplesmente viajar ficando alojado em hoteis ou mesmo em pousadas baratas durante tanto tempo estava completamente fora das minhas possibilidades.
Deste modo tive que encontrar formas de poupar dinheiro, em São Paulo, Itamambuca e muitos locais do Brasil e de outros países fiquei alojado em casa das pessoas com o programa de intercâmbio de hospitalidade (que muito recomendo) Couchsurfing e em Paraty utilizei o WWOOFing, estes programas além de tornarem a minha viagem possivel por ser muito mais barata contribuiram MUITO para enriquecer a viagem com experiências inesqueciveis.
Há muito tempo que conheço o couchsurfing e há já vários anos que o utilizo nas minhas viagens, porém nunca tinha utilizado o WWOOFing e não conhecia ninguém que o tivesse utilizado, embora já tivesse ouvido e lido coisas acerca desta organização.
A sigla inglesa WWOOF significa World Wide Opportunities on Organic Farms e o wwoof consiste numa rede global de organizações que colocam voluntários em contato com agricultores orgânicos. Em troca de trabalho voluntário o "wwoofer" recebe alojamento e refeições gratuítas e a oportunidade de aprender mais sobre agricultura biológica e permacultura.
Os voluntários não pagam pela sua estadia (e refeições), os produtores orgânicos não pagam aos voluntários pela sua ajuda, no entanto as organizações WOOF cobram uma taxa (não muito elevada, ainda assim podia ser mais barata) pela inscrição no site.
A partir do momento em que se inscrevem os voluntários recebem a lista de todas as quintas/ fazendas/ sítios de produção orgânica que fazem parte da rede WWOOF de determinado país, neste caso recebi a lista do WWOOF Brasil.
Os voluntários WWOOF escolhem as quintas que mais lhes interessam e entram em contacto com os produtores para (possivelmente) organizarem a sua estadia no local escolhido.

Paisagem a caminho de Corisco.

Quando ainda estava em Portugal contactei um sítio que me pareceu interessante, porque era no meio da floresta, perto de Paraty e o dono aceitou a minha estadia.
A partir do momento em que cheguei ao Brasil tentei contactá-lo primeiro por e-mail mas ele não respondeu à minha mensagem, mais tarde em Itamambuca mandei mais mensagens para o e-mail dele e tentei telefonar-lhe mas ele nunca atendia. Por esse motivo acabei por ficar em Itamambuca mais dois dias do que o previsto porque não queria ir para Paraty sem ter as coisas organizadas, mas acabei por ir mesmo assim.
No autocarro rumo a Paraty tentei diversas vezes telefonar, sempre sem sucesso. Tinha uma morada da quinta mas estava escrito apenas estrada do Coriscão sem número de porta nem mais nenhuma referência.
Quando estava quase a chegar a Paraty vi na estrada uma indicação que apontava Corisco na direcção de um estradão que seguia para a esquerda. De um impulso fiz soar a campainha e saí do autocarro. Sabia que a quinta seria fora da cidade por isso chegar até à cidade não seria útil e ali havia a indicação. Estava escrito Corisco e não Coriscão mas podia ser a mesma coisa, por vezes as povoações tem nomes com dupla grafia.
Comecei a caminhar pelo estradão e perguntei ás primeiras pessoas que vi onde ficava o Coriscão. Não sabiam onde era o Coriscão mas o Corisco era a cerca de cinco quilómetros e não havia autocarro.
Horas mais tarde parei numa padaria para tomar uma bebida depois da longa caminhada de mochila ás costas no calor e humidade do verão brasileiro. Aí fiquei a saber que ali já era o Corisco mas o Coriscão ainda ficava longe, felizmente existia um autocarro que podia apanhar na estrada (mas ainda faltavam mais 2 quilómetros para essa estrada.

Paraty ao longe desde o Coriscão

Campos e Florestas a caminho do Coriscão

Encontrei a estrada e apanhei o autocarro. O percurso levou-me vale acima em direção ás montanhas, pouco tempo depois a estrada acabava subitamente e o autocarro deu a volta.
Saí, o autocarro não ia mais longe. O Coriscão começava ali e estendia-se por uma zona quase desabitada até ao fim do vale muitos quilómetros acima. As casas eram longe umas das outras e frequentemente longe do caminho de terra a que chamavam "Estrada do Coriscão".

Á medida que subo o vale do Coriscão a paisagem torna-se cada vez mais selvagem.

Carregado com duas mochilas no momento em que começa a chover.

Perguntei ás pessoas que saíram do autocarro comigo se conheciam o sítio Teva (a quinta para onde me dirigia). Ninguém conhecia, já eram quase seis da tarde e o céu estava carregado de nuvens ameaçando chuva.
Pensei em voltar a telefonar mas não existia rede (conexão) naquele local. Comecei a subir o estradão de terra, não tinha outra opção e fui perguntando a todas as pessoas (não eram muitas) que encontrava se conheciam o sítio Teva, ninguém conhecia, porém encontrei alguém que conhecia um Tamer (o nome do dono) e que me disse para subir o caminho que ia aparecer daí a um quilómetro, á esquerda e que entrava no meio da mata.

Assim fiz, ao fim de poucos metros o caminho passava a ser apenas um pequeno trilho pelo meio da floresta, não se viam mais casas nem sinais de existirem casas por perto, era apenas floresta, estava a ficar escuro e para piorar tudo começou a chover. Pensei em desistir e ir procurar uma pensão em Paraty, afinal estava a ficar de noite e estava a entrar no meio da "selva" á procura de um "Tamer" que podia ser ou não ser a pessoa certa, mas ainda assim continuei.
Poucos minutos depois encontrei uma casa feita de madeira e o Tamer e amigos que estavam á minha espera. A única razão pela qual não atendiam chamadas era porque não tinham rede de telemovel, nem internet, na verdade nem sequer tinham electricidade mas tinham o jantar pronto para mim. Fiquei com a impressão que ia passar uns dias interessantes ali...

A trilha que me conduziu até ao local que procurava. Se não fosse esta ponte de madeira provavelmente teria dado meia volta e ido procurar uma pensão em Paraty.

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