sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cap Skirring - Ziguinchor - Kolda - XXX???!!!





Tencionava partir bem cedo de Cap Skirring, mas de manha cedo chovia torrencialmente e resolvi esperar para ver se abrandava, não queria molhar-me todo a caminho da "paragem de táxis" do centro de Cap Ski.
No entanto como a chuva não dava tréguas acabei por chamar um táxi para me vir buscar e levar a Cap Ski, já a meio da manhã. Não podia esperar mais, queria chegar nesse mesmo dia a Niokolo-Koba ou a Tambacounda, mas a viagem era muito longa e não sabia se seria possível.
Além do mais não é nada recomendável fazer viagens de noite em Casamasa, como já expliquei a situação política é instavel. Durante o dia as patrulhas militares asseguram a segurança das estradas, mas é à noite que os rebeldes atacam, vindos da selva ocultados pela escuridão fazem ataques relâmpago, assaltando os carros, tomando reféns e regressando à floresta antes que os militares possam chegar e resolver a situação.
A primeira etapa da minha viagem era Ziguinchor. Fiz toda a viagem até lá debaixo de chuva intensa. Chegado a Ziguinchor tive que abandonar o táxi onde seguia e apanhar outro (os táxis são colectivos, funcionam quase como autocarros). Tive de esperar que o novo táxi enchesse para poder partir o que ainda acentuou mais o meu atraso. Quando conseguimos juntar as 6 pessoas necessárias para encher o táxi partimos agora em direcção a Kolda.
Homem mostrando um macaco a crianças na estação de transportes de Zuiguinchor

Pelo caminho o motorista perguntou se alguém ia para Velingara ou Tambacounda. Eu disse que sim, mas mais ninguém no táxi ia, o taxista disse que me levaria até Velingara ou Tambacounda se conseguisse arranjar mais passageiros para encher o táxi para a viagem.
Em Kolda o motorista deixou os passageiros perto da central de transportes, mas não entrou. Nas centrais de transportes os motoristas têm que pagar uma taxa para recolher passageiros.
O taxista saiu do carro para procurar passageiros e eu fui ajudar, quanto mais depressa arranjasse passageiros mais depressa partia, por isso dei uma volta pela rua onde o táxi estava gritando para o ar Velingara, Velingara, Tambacounda, Tambacounda, Diaobé, Diaobé (é pratica comum gritar os destinos e as pessoas já sabem que é sinal que há um táxi que quer partir).
Em meia hora conseguimos atrair pessoas suficientes para encher o carro e partimos, no entanto já não era nada cedo, já não ia chegar a Tambacounda de dia por isso decidi que saía do táxi em Velingara e continuava no dia seguinte.
Continuava a chover bastante, a estrada de pavimento fraco cheio de buracos, cruzava zonas de floresta, campos de cultivo e pequenas aldeias e de vez em quando passavamos uma das "habituais" patrulhas militares.
Algumas secções da estrada eram más e cheias de buracos mas outras tinham pavimento novo e estavam em boas condições (Esta foto foi tirada no dia seguinte quando já não chovia, no dia deste relato a visibilidade era muito má por isso não deu para tirar fotos)

Eram cerca de cinco horas da tarde quando chegamos a um ponto da estrada à saída de uma aldeia em que a estrada estava barricada com troncos. Havia uma pequena caserna ao lado da estrada, um tanque estacionado e três militares de metralhadora.
Dirigiram-se ao motorista em Wolof, tive que mostrar o passaporte, aguardámos, devolveram-me os documentos, o motorista deu meia volta e voltou à aldeia.
Perguntei o que se passava, o motorista não explicava nada, ninguém explicava. Até que um dos passageiros me começou a explicar que a estrada estava barricada porque não era segura. Os carros que tinham tentado atravessar aquela hora no dia anterior tinham sido atacados pelos rebeldes. Também já não podíamos voltar para trás para Kolda porque a estrada até aí também não era segura de noite.
Fiquei confuso, segundo o que tinha lido os problemas com rebeldes existiam no Baixo Casamansa e nós estávamos no Alto Casamansa. Parece que os rebeldes se estão a deslocar para leste e que os artigos só falam do Baixo Casamansa porque é aí que existem as praias e os turistas, não ouvi ninguém a falar da insegurança no Alto Casamansa, mas a verdade é que as pessoas com quem falei nunca tinham cá vindo.
- E agora? O que vamos fazer? - Perguntei ao tal passageiro, enquanto o motorista estacionava o carro na aldeia.
- Temos de dormir na aldeia e amanhã de manhã continuamos a viagem.
A aldeia era apenas uma aldeia de cabanas com tecto de colmo. Não existia obviamente nenhum tipo de alojamento. As nossas hipóteses eram dormir no carro (éramos 6 mais o motorista mais a bagagem de seis pessoas) ou encontrarmos alguma alma caridosa que nos deixasse pernoitar na sua casa por algum dinheiro, ou dormir ao relento (debaixo da chuva intensa).
Continuei a falar com o Dialló, o passageiro que me tinha explicado o que se passava, apresentamos-nos, eu disse que era português, ele explicou que vivia no Senegal mas era mauritano e fomos juntos comer alguma coisa e procurar um hostel, mas não existia nenhum. Como em quase todas as aldeias Senegalesas existia um mini-mercado cujo dono era mauritano. Como era do mesmo país que ele podia ser que lhe desse alojamento (e a mim também esperava eu). Chegámos, eles conversaram em (seria pulaar?) e ele disse que podíamos ficar ali e não era preciso pagar nada, éramos convidados.
As nossas instalações ficavam numa cabana (foto) nas traseiras do mini-mercado.
A cabana

Não havia água nem luz, mas eu tinha o meu frontal que foi muito útil. Trouxeram-nos um chá e um prato de arroz branco (para os três; eu, o Dialló e outro dos passageiros que nos viu e veio também). Soube a pouco, só tinha comido uma sandes antes porque estava com pressa de encontrar um alojamento e resolver a situação e durante o dia inteiro não tinha comido nada.
Perguntei se seria seguro atravessar no dia seguinte. Explicaram-me que antes de abrirem a estrada esta é patrulhada pelos tanques para assegurar que não existem rebeldes, só depois abrem a estrada. Na aldeia durante a noite também seria seguro porque era à entrada da aldeia que os militares pernoitavam e existiam sempre alguns de vigia.
A cama não era muito confortável, a noite estava demasiado húmida e quente e a roupa colava-se ao corpo, tinha fome e não sabia se ia acordar a meio da noite com o som de tiros entre tropas e rebeldes(altamente improvável, mas não completamente impossível)... dormi como um bébé e só acordei na manha seguinte!

*PS Não há fotos dos militares porque é proibido e não apetecia ficar com a máquina fotográfica apreendida, ou pior.

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