sábado, 15 de janeiro de 2011

Cap Skirring





Acordei para uma dia sem viagens loucas de táxi nem peripécias malucas, apenas um dia relaxado de praia, a nadar e a descansar à sombra dos coqueiros.



No entanto aborreci-me ao fim de algum tempo e fui dar uma volta a pé até... à Guiné-Bissau!
Não é assim tao longe! Tinham-me dito que do "Le Paradise" fronteira são apenas 5 km.
Nos primeiros 2,5 quilómetros até Kabrouse a praia é orlada de jardins dos diveros "campements" e aldeamentos turísticos, no entanto (talvez por ser época baixa) não se vêem turistas quase nenhuns. Depois de Kabrousse há umas dunas e uns baldios arborizados. As dunas vão ficando mais baixas e os baldios dão lugar a campos de milho e arrozais. Passei um posto de vigia abandonado e encontrei uma manada de vacas à beira mar juntamente com os seus pastores, duas crianças que não deviam ter mais de 7 anos. Perguntei-lhes se ali já era a Guiné-Bissau, mas elas não falavam françês nem português (experimentei também em português, pelo sim, pelo não).
A uma dada altura notei que estava num cabo e que a partir daí a linha de costa tomava uma direcção completamente diferente. Continuei a andar, voltaram a existir dunas e para lá das dunas em vez de arrozais agora existiam mangais e um canal.
Já tinha andado bastante, não sabia se estava na Guiné-Bissau, nem sabia se estar na Guiné era uma boa ideia... queria só caminhar até à fronteira e voltar para trás, não sabia se era preciso visto para entrar no país, não tinha identificação nenhuma, só tinha uns calções e uma t-shirt. Dei meia volta e comecei a regressar.
Mais tarde, com a ajuda do Google Earth revi o meu trajecto, de facto tinha passado a linha imaginária de fronteira, mas estava numa parte da Guiné separada do resto do país por um canal e nesta parte da Guiné-Bissau não existe nenhuma aldeia por isso, e porque só é acessivel por terra a partir do Senegal não existe nenhum tipo de controlo ou fronteira física visivel.



No meu caminho de volta ao hostel reparei numa pequena cabana nas dunas (entre Kabrousse e Cap Ski) com um pequeno jardim, umas mesas e umas cadeiras.
A cabana era cheia de personalidade, totalmente assimétrica e no entanto harmoniosa, construida com folhas de palmeira e madeira e outras coisas que deram á costa e foram recolhidas. No jardim cada pequeno arbusto era rodeado por uma círculo de seixos. Existiam diversos "vasos" que podiam ser garrafões de água ou pneus ou velhos cestos de vime.
Á porta estava um homem com os seus 30 anos e ar de apreciador de reggae, com dreadlocks longos e barrete com as cores da bandeira da Etiópia.
- Entra "mon ami". Queres comer?
Entrei com curiosidade, a cabana tinha uma zona aberta sem paredes mas com um tecto de folhas de palmeira onde estavam as mesas e as cadeiras, uma pequenissíma divisão onde existia um fogão a gás (daqueles que se levam para acampar), panelas e um armário com loiça, e outra divisão com uma grande cama de rede com um colchão por cima e algumas roupas dobradas em cima de umas tábuas.
Aquela cabana era a casa daquele homem, e também o restaurante no qual ele servia refeições aos turistas que passavam, mas pelo espaço e loiça que tinha não dava para servir mais de 7 ou 8 pessoas de cada vez. Atrás da cabana existia uma pequena horta onde o homem cultivava batatas, pimentos, tomates e mais alguns vegetais.
Perguntei o que era o almoço e quanto custava.
- O que queres comer?
- Não sei, o que há?
- Aquele ali - disse apontando um homem na praia com uma cana de pesca - é meu irmão, ainda não apanhou nada, mas se não te importares de esperar um pouco, posso grelhar um peixe que ele pescar, senão posso ir ao mercado comprar. E para acompanhar posso fazer arroz, e uma salada.
- Parece-me bem, e qual é o preço?
- Quanto queres pagar?
Disse um preço que me pareceu justo, e ele aceitou.
Pedi que fizesse o arroz sem refogado porque estava um pouco enjoado, a água da torneira que tinha bebido no Gâmbia ou o bissap que tinha bebido pelo caminho não me tinham feito bem.
Fui ao meu hostel buscar a carteira e uma garrafa de água, a água que ele tinha vinha de um poço e apesar dele beber, eu preferi não arriscar desta vez (afinal ainda estava a recuperar da água do dia anterior).
Cheguei, ele ainda estava a cozinhar, convidou-me a ir deitar-me a descansar enquanto esperava mas preferi ficar a falar com ele enquanto cozinhava.
O irmão tinha apanhado dois grandes peixes que não sei o que eram (sabiam a robalo) que ele estava a grelhar sobre as brasas.
Surpeendeu-me o aspecto final, serviu-me a comida numa loiça de aspecto sofisticado e com a distribuição dos elementos no prato (arroz, peixe, salada, limão) notavelmente cuidada, talheres e copo elegantes e um guardanapo muito bem dobrado.
Notando a minha supresa explicou que já tinha trabalhado em diversos hoteis. Sentou-se e ficou a fazer-me companhia enquanto comia. Falámos sobre a vida no Senegal e em Portugal.
Depois de comer fiquei a preguiçar numa cama de rede pendurada entre dois troncos ao lado da cabana á sombra de uma palmeira.
Não fiz nada a tarde toda a não ser nadar e descansar.
Á noite chegaram o Mourad e o Julien, quando nos despedimos em Toubakouta, tinhamos combinado voltar a encontrar-nos aqui em Cap Skirring.

*Todas as fotos são da praia junto ao hostel e não das que visitei até à Guiné-Bissau, não quis levar máquina fotográfica por isso não tenho nenhuma foto do que descrevo...

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